"Somos Campeões do seu Centenário"

Há exatos 14 anos, em 25 de junho de 1995, Fluminense e Flamengo disputavam a final do campeonato carioca em um jogo emblemático, repleto de magia e felicidade em verde, branco e grená. Afinal de contas, já se passavam dez anos do último título conquistado pelo tricolor e a torcida pó-de-arroz, a muito já sentia saudade do grito de "É Campeão".

A equipe rubro-negra vinha motivada para a conquista do título no ano em que o clube da Gávea completara seu centésimo aniversário, repleta de estrelas como Sávio, Edmundo e Romário, a pouco eleito o melhor jogador do mundo. Para levantar o caneco, o empate já era o suficiente.

O tricolor, por sua vez, estava longe de ser o favorito para a grande decisão. Confusões e atrasos salariais desfilavam pelos corredores do salão nobre nas Laranjeiras e a ânsia por uma vitória no ano do centenário de seu rival, corroia a mais pura alma pó-de-arroz.

O Maracanã estava empolvoroso e a massa urubu tomava grande parte do estádio, com a certeza de que, após o apito final, a taça tomaria seu rumo em direção à Gávea.

Encolhida mas fiel, a torcida tricolor comparecia ao estádio em busca de reviver momentos gloriosos, como nas finais do carioca de 83 e 84 contra o mesmo Flamego, nas quais o Fluminense de Assis se sagrou bicampeão.

O jogo começou surpreendente, com absoluto domínio por parte da equipe pó-de-arroz, que sempre chegava com perigo ao arco rubro-negro. Aos 30 minutos da primeira etapa, Renato Gaúcho recebeu a bola na esquerda, partiu pra cima de dois zagueiros e, mesmo desequilibrado, concluiu a gol para abrir o placar no Mário Filho: 1 x 0. O Flamengo parecia entregue e não demonstrava reação mesmo após sofrer o primeiro abate. Em lance despretencioso, Márcio Costa arrisca de fora da área e Roger rebate a bola nos pés de Leonardo que, livre, ampliou o placar e levantou a torcida tricolor. O primeiro tempo terminara e, para muitos, o jogo já estava terminado por ali.

Entretanto, não estamos falando de qualquer jogo de futebol e sim de um FlaxFlu, como já dizia Nelson Rodrigues:"O Fla-Flu não tem começo. O Fla-Flu não tem fim. O Fla-Flu começou quarenta minutos antes do nada. E aí então as multidões despertaram."

O Flamengo voltou diferente para a segunda etapa e logo após o primeiro rolar da bola, tomou conta da partida. Após algumas chances de gol, como a bola chutada no travessão por Branco, o rubro-negro diminuiu com Romário, após a bola ser mal-rebatida pela zaga tricolor e sobrar, limpa, para o baixinho marcar. Cinco minutos depois, Fabinho fez bela jogada cortando três defensores tricolores em um só lance e chutou firme para empatar o jogo e despertar a massa urubu.

Com o empate, a taça iria para a Gávea. O Fluminense estrou em desespero, principalmente com a expulsão de Lira após dura falta em Fabinho. O Maracanã estava em festa. Os jogadores flamenguistas no banco de reservas já se preparavam para invadir o campo e comemorar o título.

No que parecia a última jogada de ataque tricolor, Aírton avançou pela direita e invadiu a grande área. Charles Guerreiro partiu para o bote, mas foi deixado no chão após dois lindos cortes. Quando se viu livre de marcação, Aírton não pensou duas vezes e bombardeou o gol. Quando a bola tomava o seu rumo, Renato Gaúcho resolveu entrar para a história, desviando-a de barriga e levando a torcida tricolor e os jogadores em campo ao delírio. O título era nosso, o jejum finalmente teria um fim. Já era hora de voltarmos a gritar e frisar que nós éramos os campeões daquele ano.



Manuel Camillo